A MAGIA DO INUSITADO
Para Silvia Wolff, embora a descoberta da aquarela como meio de expressão tenha ocorrido em
2021, a prática da técnica reúne uma vida de envolvimento profundo e constante com
diferentes formas de arte. Ecoa em sua pintura as vivências profissionais em torno do
entendimento do ser humano e de suas inter-relações socioculturais e comportamentais.
Seu repertório criativo resulta da somatória: dos reflexos da infância, como as experiências
familiares no teatro e na música; da juventude e maturidade embrenhadas pelo cinema e
visitas frequentes a museus e à exposições de arte; de pesquisas acadêmicas que exploram
temas embasados nas artes visuais; e de sua formação profissional em psicologia clínica e
Psicodrama. Na sua prática terapêutica, Silvia pinta com a mente, projeta os contextos
narrativos de seus pacientes em imagens, organizando-os visualmente como forma de registro
e memorização.
Pode-se dizer que o conjunto de vivências e experiências foram essenciais, porém não
limitadores, para a expressão artística que Silvia se dispõe a enfrentar em sua terceira idade.
Não limitadores, pois apesar do repertório culto, a artista consegue trazer para sua pintura
pinceladas genuínas e espontâneas que se manifestam através da simplificação. Sua paleta é
delicada. A forma é construída através de manchas sobrepostas e justapostas que não se
restringem a definição de figura e fundo. Tudo está em movimento.
Nas diversas camadas fluidas da aquarela e no caminho de suas águas, ora controladas e ora ao
acaso, sua identidade se revela na colocação das cores em pequenos fragmentos, lado a lado. A
luminosidade provém do fundo branco do papel e contrasta com os pigmentos em diferentes
tonalidades. A cor nem sempre é protagonista, também no preto e branco de suas experiências
em nanquim, se constroem temáticas muito íntimas e profundas.
Não é difícil observar que, a trajetória de sua pesquisa está direcionada para as obras de Paul
Cézanne, Paul Klee, Marc Chagall e Joan Miró, principalmente no que tange ao uso da cor para
dar movimento, perspectiva e volume.
A exposição A MAGIA DO INUSITADO, apresenta aproximadamente 100 pinturas que
representam a expressão mais autêntica da artista. As obras, muitas vezes, abstraem a
representação fidedigna da realidade. Manchas, formas e linhas se organizam livremente na
busca da harmonia compositiva. É o ato espontâneo de criação.
Embora se diferencie do ritmo comum de aprendizado da aquarela, esse método se adequou
perfeitamente ao estilo da pintura de Silvia Wolff: as propostas se iniciam com a intenção de
“tentar e fazer “, moldam-se com a gestão do inesperado e concluem-se com o aprendizado da
técnica e o exercício da observação. O conjunto é um passeio pela inocência controlada das
pinceladas.
A exposição é consequência do encontro, também inusitado, entre a artista e sua orientadora e
curadora da mostra, ambas iniciadas na experimentação, compartilham suas experiências
artísticas pela primeira vez. São quase quatro anos de troca, conversas e muito trabalho, que
ampliaram a relação da arte com a vida e reforçaram as escolhas individuais.
As aquarelas aqui expostas retratam, para Silvia, o despertar inusitado de um novo e misterioso
sentido de encontro consigo mesma.
Priscila Mainieri, setembro 2024
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