A MAGIA DO INUSITADO
Para Silvia Wolff, embora a descoberta da aquarela como meio de expressão tenha ocorrido em
2021, a prática da técnica reúne uma vida de envolvimento profundo e constante com
diferentes formas de arte. Ecoa em sua pintura as vivências profissionais em torno do
entendimento do ser humano e de suas inter-relações socioculturais e comportamentais.
Seu repertório criativo resulta da somatória: dos reflexos da infância, como as experiências
familiares no teatro e na música; da juventude e maturidade embrenhadas pelo cinema e
visitas frequentes a museus e à exposições de arte; de pesquisas acadêmicas que exploram
temas embasados nas artes visuais; e de sua formação profissional em psicologia clínica e
Psicodrama. Na sua prática terapêutica, Silvia pinta com a mente, projeta os contextos
narrativos de seus pacientes em imagens, organizando-os visualmente como forma de registro
e memorização.
Pode-se dizer que o conjunto de vivências e experiências foram essenciais, porém não
limitadores, para a expressão artística que Silvia se dispõe a enfrentar em sua terceira idade.
Não limitadores, pois apesar do repertório culto, a artista consegue trazer para sua pintura
pinceladas genuínas e espontâneas que se manifestam através da simplificação. Sua paleta é
delicada. A forma é construída através de manchas sobrepostas e justapostas que não se
restringem a definição de figura e fundo. Tudo está em movimento.
Nas diversas camadas fluidas da aquarela e no caminho de suas águas, ora controladas e ora ao
acaso, sua identidade se revela na colocação das cores em pequenos fragmentos, lado a lado. A
luminosidade provém do fundo branco do papel e contrasta com os pigmentos em diferentes
tonalidades. A cor nem sempre é protagonista, também no preto e branco de suas experiências
em nanquim, se constroem temáticas muito íntimas e profundas.
Não é difícil observar que, a trajetória de sua pesquisa está direcionada para as obras de Paul
Cézanne, Paul Klee, Marc Chagall e Joan Miró, principalmente no que tange ao uso da cor para
dar movimento, perspectiva e volume.
A exposição A MAGIA DO INUSITADO, apresenta aproximadamente 100 pinturas que
representam a expressão mais autêntica da artista. As obras, muitas vezes, abstraem a
representação fidedigna da realidade. Manchas, formas e linhas se organizam livremente na
busca da harmonia compositiva. É o ato espontâneo de criação.
Embora se diferencie do ritmo comum de aprendizado da aquarela, esse método se adequou
perfeitamente ao estilo da pintura de Silvia Wolff: as propostas se iniciam com a intenção de
“tentar e fazer “, moldam-se com a gestão do inesperado e concluem-se com o aprendizado da
técnica e o exercício da observação. O conjunto é um passeio pela inocência controlada das
pinceladas.
A exposição é consequência do encontro, também inusitado, entre a artista e sua orientadora e
curadora da mostra, ambas iniciadas na experimentação, compartilham suas experiências
artísticas pela primeira vez. São quase quatro anos de troca, conversas e muito trabalho, que
ampliaram a relação da arte com a vida e reforçaram as escolhas individuais.
As aquarelas aqui expostas retratam, para Silvia, o despertar inusitado de um novo e misterioso
sentido de encontro consigo mesma.
Priscila Mainieri, setembro 2024
A exposição Flor Flora Floral apresenta aquarelas recentes de Emilia Gola, Leni Fujimoto e Maria Inês Lukacs que em suas pinturas exploram a potência da flor enquanto signo para abstrair, figurar, compor. As três artistas foram premiadas pelo Ateliê Galeria Priscila Mainieri entre os 20 selecionados para a coletiva Dia Mundial da Aquarela 2022 – Secos e Molhados –, mostra realizada em parceria com a International Watercolor Society – Brasil.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Carlos Drummond de Andrade
Em Flor Flora Floral vê-se a germinação desse investimento: o segredo se revela em inflorescências e o improvável manifesta-se.
Desde sempre tópica na arte, flores desabrocham prenhes de significados que se despetalam em outros e outros. Flores são efêmeras como as cerimônias e rituais que enriquecem, mas os efeitos que causam perduram na memória; são portadoras de um não se sabe quê, ímãs que atraem os sentidos e espírito. Um pouco há de ser pela improbabilidade das formas e cores que suscitam; outro tanto talvez pelas paisagens e jardins que as flores fazem formular; quiçá ainda pelo condão de gerar ambiências estimuladoras, girlandas para práticas humanas das mais profanas às mais sacras.
A ideia que organiza a exposição Flor Flora Floral sintetiza-se na tríade coisa, paisagem e ambiência, analogamente ao que se faz com a Lua. Há o satélite Lua, corpo celeste, objeto de louvores, oferendas, estudos; há o luar, que só pode se fazer paisagem com a presença do satélite; e há o luau, que além de luar reclama por gente, exige a luz da Lua mais a luz da fogueira.
Na seleção e na organização das obras expostas procurou-se perceber como no trabalho de cada uma das artistas predomina a abordagem do tema flor em relação aos aspectos acima enumerados: se para o substantivo, se para a paisagem, ou se para o imaginário. Em plano de fundo estiveram sempre presente as Três Graças Tália, Aglaia e Eufrosina, musas respectivamente responsáveis pelo nascimento das flores, pela claridade e pelo sentido da alegria.
Leni Fujimoto figura a flor, substantivando-a em toda a delicadeza de suas formas; fecunda poeticamente a coisa emprestando-lhe perenidade.
Maria Inês Lukacs sugere a flor na paisagem, fazendo da natureza jardim; cria ambientes silvestres que expressam estruturas florais.
Emilia Gola extrai da flor a ambiência, deixando fluir a subjetividade; organiza suas composições a partir de colagens e busca o floral, estados de espírito, harmonizações emocionais.
As aquarelistas pintam também outros motivos mas, aqui, vêm para nos lembrar que das flores não há mais nada a dizer, a não ser que é preciso ver as flores.
Waldemar Zaidler, setembro 2023
A exposição Pinturas e objetos reúne 50 trabalhos recentes e inéditos do artista, arquiteto e designer Samuel Ribeiro Jr. São 25 assemblages, 19 pinturas e 6 colagens que abordam poeticamente a Memória, oscilando entre a concretude e a abstracão. São, simultaneamente, conteúdos e continentes de resíduos e reminiscências. Transformando em ser aquilo que já não mais é, Samuel Ribeiro Jr. sugere reflexões oportunas em tempos, como nunca, marcados por disputas pela manutenção da Memória.
Carlos, Manoel e Manuel encontram-se em Samuel.
O Bandeira vê-se na indefinição plástica das pinturas, reforçando o chute no parnasiano sapo-tanoeiro: “Vai por cinquenta anos / Que lhes dei a norma: / Reduzi sem danos / A formas a forma”.
Do de Barros: “Todo lixo é bom para a poesia”, e nos objetos só não se vê, ainda, um “chevrolet gosmento”.
Pelo prisma de Drummond: “Fica sempre um pouco de tudo / Às vezes um botão. Às vezes um rato”. Samuel faz das pinturas continente, e dos objetos, conteúdos da Memória, tema central desta exposição.
Memória não se confunde com lembrança. As lembranças de Samuel movem – e em alguns casos até definem – a distribuição de formas nas pinturas e a busca dos resíduos que agrega nos objetos; entretanto, uma vez finalizados os processos e expostos os resultados não é mais a subjetividade do artista que importa, mas, sim a do observador.
Identificar cacarecos em deambulações, catá-los, transportá-los, armazená-los, fixá-los juntos criteriosamente, tudo isso é afetado por lembranças pessoais – algumas mais, outras menos conscientes – e é divertido conversar sobre esses encadeamentos com o artista. Entretanto, assim como ocorre com os neologismos, uma vez na boca do povo, os possíveis significados saltitam até que se forme algum consenso semântico.
Na construção dos objetos, trecos são justapostos sem qualquer subordinação, em parataxe, como faz Guimarães Rosa com a palavra sagarana (saga + rana, “semelhança” em tupi). Alhos e bugalhos transconectados sugerem e estimulam descolamentos de sentidos, surpreendem e escapam de suas significâncias ordinárias. Tal efeito, entretanto, Samuel não alcançaria sem o rigor compositivo, o senso cromático e as soluções estruturais para as quais certamente contribuíram suas décadas de prática profissional como arquiteto e designer gráfico. Não há nos objetos nada de aleatório, mas, ao mesmo tempo, é tudo viagem. Oba! “Os delírios verbais me terapeutam.” Os visuais também.
A prática de combinar trens disparatados com intenções artísticas – assemblage – não é novidade. Já em 1886, o despretensioso grupo de artistas parisienses Arts Incohérents convidava o público para ver trabalhos, como, por exemplo, o intitulado “Pá Enxada Tampa de Bueiro Tudo Jogado Lá”. Tranqueiras foram articuladas no cubismo, no dadaismo, no surrealismo, na pop art, nas instalações etc. Assemblage é uma extensão do termo colagem, este utilizado em 1912 por Apollinaire para designar a invenção que identificou naqueles trabalhos em que Picasso grudava troços sobre telas pintadas. Em 1913, Duchamp apresenta seu primeiro ready-made: uma roda de bicicleta sobre um banco de madeira. Uma colagem de Richard Hamilton, em 1956, é apontada como germinal da pop art.
Samuel insere-se nessa linhagem e também, para ele, a colagem foi uma das portas de entrada para as práticas plásticas, precedendo a sua produção de objetos, que ele próprio classifica como colagens tridimensionais. Seis colagens produzidas recentemente foram selecionadas para integrar esta mostra, além de 19 pinturas e 25 objetos.
Ainda que em diferentes momentos a assemblage fosse revestida de nomeações e conceituações singularizadas, ela sempre se manteve distante das artes ditas aplicadas. Inseriu-se no universo dos museus e das galerias e nele vem pelejando há décadas, com avanços e retrocessos na ousadia propositiva ou investigativa, em busca da codificação de uma linguagem expressiva. Conseguiu, em boa medida, estabelecer um discurso próprio e referencial como gênero no cardápio da arte moderna.
Sócrates condenava a escrita como ameaça à Memória. Hoje, em meio a ruínas éticas, há quem questione as maquinações que ameaçam monopolizar as decisões sobre o que deve ser passado adiante. Nesse contexto é alvissareiro que artistas insistam em transformar em ser aquilo que já não mais é, reciclando a noção de que Memória se edifica também nas dimensões coletiva e social. Papos de humanos, para quem pensa que: “Se de tudo fica um pouco, / mas por que não ficaria / um pouco de mim? no trem …”.
Nas pinturas, Samuel não se põe em busca de organizações coerentes que estabeleçam enredos. Empenha-se, parece, em conferir expressão poética a construções de espaços imaginários onde poderiam habitar seus objetos. Assim como nestes, cada parte – forma, mancha, linha, letra – lançada sobre a superfície é simultaneamente consequência e causa da anterior e da próxima. Uma abstração do futuro enquanto passado que transcorre no presente, Memória projetada.
Monocromáticas, ou quase, nas pinturas, a cor unifica e integra as formas no plano pelo controle de equivalências de intensidades luminosas, procedimento que imprime homogeneidade ao conjunto a ponto de possibilitar a combinação dos trabalhos aos pares ou aos trios. Mais uma vez, justaposições assindéticas, agora pictóricas-gráficas-
Nesta exposição, concretude e abstração se complementam. Para saber como Samuel consegue essa façanha, só mesmo vendo, não adianta tentar explicar.
Waldemar Zaidler,
curador
julho 2023
Os espaços permeados pela cor, pela luz, sombras e por linhas que unem delicadamente a composição, ocupam o suporte de maneira harmoniosa, imprimindo volume, perspectivas e texturas.
Angeli apresenta nesta exposição, mais de 40 pinturas recentes que expressam sua pesquisa cuidadosa e seu vínculo íntimo com as artes visuais contemporâneas.
(Priscila Mainieri, fevereiro 2023)
Angeli é natural de Montevidéu, Uruguai, reside em São Paulo. Tem uma vasta experiência em aquarela. Atualmente, orienta grupos de artistas aquarelistas e participa do atelier Selma Daffre.
Por nove anos fez parte do grupo de estudos com a Prof. Gallina Sheetikoff. Vivenciou workshops nacionais e internacionais em Ilhabela, Uruguai e SP. Entre 2000 e 2002, em Porto Alegre, frequentou cursos no Museu de Artes , Casa de Cultura Mário Quintana e Ateliê da Prefeitura. Desde 2007, vem mantendo seu trabalho exposto em grandes mostras de aquarela, a saber: Exposição individual no Consulado do Uruguai em SP (2019), Grande Exposição de arte Bunkyo (2015/16/17 e 18); Salão de Aquarela de Piracicaba (2015/16 e 17); 12a exposição de intercâmbio Nipo-Brasileiro, 2016; 5th International Watercolor Terminal, Colômbia, 2015; Exposição Anual ABA (2011/12 e 13); entre outros.
A IWS - Brazil e o Ateliê Galeria Priscila Mainieri convidam para a exposição
Dia mundial da Aquarela 2022 - SECOS & MOLHADOS
As muitas faces de um personagem que atravessa a modernidade
A exposição Frenhofer Retratado apresenta 63 trabalhos recentes e inéditos de Carlos Matuck, todos compostos a partir de reflexões e referências sugeridas na novela A obra-prima ignorada, de Balzac, na qual o pintor fictício Mestre Frenhofer contracena com os reais Poussin e Porbus discutindo questões da arte e da pintura em voga até hoje. Nas pinturas e desenhos expostos se entrevê citações visuais fundidas a corpos, seres, imagens impressas. Dessa mistura, em jogo de figura-fundo, emergem rostos que devolvem agudamente o olhar de quem se dispuser a vê-los.
Frenhofer Retratado
Labirinto evoca o aflitivo sem saída. Os labirintos propostos pelas pinturas e desenhos de Carlos Matuck, porém, invertem essa noção: neles o difícil é entrar e, uma vez lá dentro, não se quer sair. O prazer do passeio por suas galerias e câmaras é semelhante ao proporcionado por uma história bem escrita. O que faz sentido, pois Frenhofer, retratado em todos os 63 trabalhos da exposição, é personagem central da novela A Obra-Prima Ignorada (Le chef-d’oeuvre inconnu), de Honoré de Balzac, publicada em 1831 e revisada em 1837, edição em que Frenhofer, ao final…
O fictício Mestre Frenhofer, alma romântica deslocada por Balzac para o início do século XVII, ecoa Pigmaleão e prenuncia Gepetto: apaixona-se perdidamente por Catherine Lescault, musa-mulher-quadro jamais concluído que pinta às escondidas ao longo de dez anos, sempre angustiado. O pintor inventado é discípulo do existido Mabuse (1478-1535) e contracena com seus colegas, também reais, Poussin (1594-1665) e Porbus (1570-1622).
As questões sobre arte e pintura por eles discutidas atingem o ápice quando, após muitas negociações, Frenhofer finalmente permite que Porbus e Poussin conheçam Catherine, que não existe a não ser na pintura A linda pentelha – assim intitulada pelo próprio Mestre. Para supresa dos dois, no quadro não conseguem ver nada além de “cores confusamente espalhadas umas sobre as outras, contidas por uma multidão de linhas bizarras que formam uma muralha de pintura”. Identificam apenas, num dos cantos, um pé, um delicioso pé, um pé vivo que emerge da caótica neblina, preservado da destruição. Como enuncia Teixeira Coelho, “Balzac escrevia uma alegoria ambígua e indecisa, por isso fascinante, do surgimento se não da arte moderna e contemporânea, pelo menos do artista moderno e contemporâneo.” 1
Tais questões refletem o que muitos artistas investigavam na pintura e na literatura produzidas na primeira metade do século XIX e, anacronismos à parte, muitas delas adiantando-se as que serão tratadas por Monet, Manet, Cézanne, Picasso, e ainda rondarão as pinturas abstracionistas-
Esse manancial de referências visuais, somado a ensaios filosóficos, literários e à reclusão pandêmica orientaram os três últimos anos de pesquisa e produção de Carlos Matuck, inaugurando, muito provavelmente, a fase madura de um trabalho iniciado há 50 anos.
Os quadros, feitos com tintas acrílicas sobre papel – utilizando penas de metal, de vidro, de madeira, pincéis de variados tipos e procedências, esponjas etc. – posteriormente montados em telas de acordo com rigorosos padrões de conservação, seguem procedimentos sui generis que combinam paradoxalmente jorros de pintura e controle técnico.
As referências, pontos de partida anteriormente fotográficas, são agora obras de pintores mencionados na novela e por seus inúmeros comentaristas – entre outros Adão e Eva, de Mabuse; Ninphe Surprise, de Manet; Estudo para Maria Magdalena, de Rubens. Tais imagens são trabalhadas de maneira tal que, restando vagamente aludidas, trazem, em sua carne, possíveis retratos de Frenhofer e, em sua pele, Catherine Lescault e Gillete, outra personagem-chave da novela. E, não raro, um pé.
Em relação às fases anteriores do percurso de Carlos Matuck essas pinturas abandonam um certo quê caricatural, mas de forma alguma renegam o humor. Também guardam a produção seriada (a seleção para a exposição foi feita a partir de acervo de aproximadamente 150 obras), evocando, em paralelo ao que escreve Barthes sobre fotografia, a ideia de linhagem, a busca, pela insistência, de uma alegoria da persistência da espécie. Ao mesmo tempo, há o comum entre os elementos constituintes das séries, o que oferece ao vedor o prazer da busca de enigmáticas diferenças entre iguais, acirrando a disputa entre o olhar e o ver.
Ainda outros movimentos derrogatórios podem ser observados na série de desenhos e aguadas monocromáticas também exposta em Frenhofer Retratado.
São feitos em papéis impressos, uns sobre páginas de enciclopédias antigas, outros sobre mapas. O que não mudou foram os cuidados de conservação, desde o tratamento de limpeza e prevenção de fungos dos papéis antigos até a aplicação de vernizes protetores. Mudou sim a seleção das páginas e mapas a serem combinadas entre si, que agora foram escolhidas em função do que nelas houvesse para estruturar visualmente os retratos de Frenhofer, e para combinar ou gerar conflitos entre significados. Em um mapa uma ilha surgere uma boca, em outro uma península parece um bigode… Carlos Matuck os vai justapondo de modo a estruturar um rosto. Sobre essa estrutura lança traços e manchas de modo aparentemente aleatório, sempre tendo em mente e à vista referências pertinentes ao universo frenhoferiano: Rembrandt, por exemplo, está presente em vários dos trabalhos. Mais uma vez, são simultâneas as alusões ao próprio retratado, à Catherine e à Gillete, que compõem juntamente com arquipélagos, besouros e outros que tais rostos que olham profundamente de volta a quem se der ao trabalho de os ver.
Assim são os labirintos de Frenhofer Retratado. Quem quiser neles penetrar ganhará, de brinde, um brinde com o Minotauro.
Waldemar Zaidler
Curador
Setembro 2022
PROGRAMAÇÃO
Os filósofos e professores Leon Kossovitch e Denis Brusa Molino comentarão as obras e suas referências em duas palestras gratuitas:
Panorama da pintura francesa, com Prof. Denis Brusa Molino – Quinta-feira, 27 de outubro, às 20h
Carlos Matuck – Trabalhos recentes, com Prof. Leon Kossovitch - Quinta-feira, 10 de novembro, às 20h
A exposição “Ode à natureza da alma” apresenta pinturas recentes de Renata Barreto. O feminino, a natureza e a vivência profunda das cores são temas recorrentes em sua pesquisa. No primeiro andar podem ser vistas telas de grande e médio formato pintadas à óleo, onde cores e curvas se misturam formando camadas de intimidade e reflexão. No segundo andar estão as telas figurativas em acrílica, com composições simbólicas em tons vibrantes, ao lado de aquarelas originais do oráculo Arco-íris da alma, desenvolvido pela artista, que nos convidam a desvendar mensagens de um universo de encantamento e sonho.
Sua prática artística se mescla com a prática educativa constantemente, propondo um mergulho profundo nas emoções e sensações através das cores, em seus cursos de pintura em aquarela e ateliê de acompanhamento artístico para adultos, com foco no desenvolvimento pessoal e terapêutico da Arte. Renata ministra também, em parceria com a arte terapeuta Célia Gomes, o Curso “Feminino em Cores – revelando seu oráculo pessoal”, jornada arte terapêutica para mulheres, onde através de 12 arquétipos da alma feminina cada mulher cria seu oráculo em aquarela. Em 2021, publicou pela Guardiã Editora o “Arco-íris da alma – inspirações para o bem viver”. Um oráculo com 42 cartas ilustradas em aquarela e poemas escritos pela artista. Para saber mais sobre a artista acesse o site: www.renatabarretostudio.com
PROGRAMAÇÃO:
Demonstração de pintura e conversa com a artista (eventos gratuitos)
· Sábado 10.09 das 16 às 17h
· Sábado 17.09 das 16h às 17h
Workshops de pintura em aquarela: (valor: R$120,00)
· Encontro com as cores: paisagens a partir do arco-íris - Sábado 10.09 das 10h às 12h, com Renata Barreto
· Pintura oracular – imagens da alma - Sábado 17.09 das 10h às 12 , com Renata Barreto
Vivência Art &Soul Cacau (valor R$160,00)
· Vivência artística e meditativa - Sábado 09.09 das 19h às 21h30 com Renata Barreto e Ismar Smith
As pinturas em Aqua inundam olhos e deságuam memórias evocando o que sempre se viu sem nunca ter sido visto.
Sempre se viu porque representam paisagens construídas sobre vetustas abordagens que há séculos – pelos jardins, pela própria pintura, pela fotografia – propõem como tópica a água
e, como poética, ambiências geradas por combinações entre seus diferentes estados, cujas mutações são continuadas perpetuamente: sólido, líquido, gasoso; gota, rio, mar; névoa, nuvem, cumulus; acúmulos mais ou menos diáfanos que na atmosfera decompõem luz em cores animando a vida desde a aurora até o crepúsculo.
Sem nunca ter sido visto porque as pinturas em Aqua são frutos do encantamento de Carla Petrini, Carla Roncarati e Débora Duarte com seus próprios universos aquosos. São representações que brotam do desejo de compartilhar o transitório de paisagens vividas. A evaporação da água, que
na aquarela cumpre decantar no papel pigmentos em camadas sobrepostas, também revela para quem pinta, no ato da pintura, surpresas que conduzem à reconstrução das cenas lembradas não como replay, mas como devir suspenso entre o físico e o metafísico.
Explica-se: em aquarela não há volta. O controle do aquarelista sobre os resultados de sua pintura é equivalente à somatória de sua intuição com seu senso estratégico para construção de imagens. A composição e o desenho, evidentemente indispensáveis, hão de estar tão introjetados no pintor quanto a gramática e a sintaxe no facundo. Isso porque, ao contrário de procedimentos coloristas, na aquarela a imagem se define ao final do processo: o desenho, assim como a luz, é resultado, e não ponto de partida.
Assim é que na aquarela, pela plasticidade, tensões superficiais e delicadeza,
a água – substantivo feminino – exige reverente observação de quem com ela opera. Os cuidados devem ser particularmente acurados quando se a emprega, como no exposto em Aqua, na representação de combinações áqueas que, em obstinada metamorfose, não param quietas para se deixarem observar. Este é o desafio inicial que valoriza o prêmio trazido por uma aquarela levada a bom termo: captar uma cena rica em significados e idealiza-la como paisagem: uma lâmina de tempo que se delineia em projeto, invenção de um discurso poético a ser elaborado com a mão para o olho, coisas de humanos.
Assim também é que, no processo de elaboração de uma aquarela, nada do projetado é garantido. Convive-se ao longo de toda a pacientíssima construção da imagem com a certeza da incerteza do que será, com a aceitação do feito como fundação do por fazer, com o reconhecimento de que, como diz Henry Bergson, “a realização traz em si um imprevisível nada que muda tudo.”
Talvez por isso seja tão bom namorar uma aquarela. Waldemar Zaidler, maio 2022
CARLA PETRINI (1963, São Paulo, SP) vive e trabalha em São Paulo.
Bacharel em Artes Plásticas com ênfase em gravura e pintura pela Faculdade Santa Marcelina em 1985 e pós-graduada em Pintura em Aquarela pela mesma instituição em 1998, atualmente cursa pós- graduação em Arteterapia no Instituto Sedes Sapientiae. Desde sua graduação, vem aprimorando seus conhecimentos na área das Artes Plásticas em cursos e workshops no Brasil e no exterior.
Sua pintura explora paisagens e os espaços abertos, os céus arrebatadores, sem a presença de figuras humanas. A sensibilidade cromática e o senso dramático da paisagem são revelados por um sentimento exaltado de paixão pela dimensão espiritual da natureza. Outro aspecto de seu trabalho é relacionado àquela paisagem do entorno, à sua intimidade e ao espaço que a circunda.
Aquarelista atuante no cenário nacional, expõe em individuais e coletivas no Brasil e no exterior desde 1981.
Seus trabalhos encontram-se em diversas coleções particulares, além dos acervos do Museu de Arte de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna (MAM), Palácio do Governo do Estado de São Paulo, Casa
da Gravura da Fundação Cultural de Curitiba, Banco Safra, Banespa, SESC, Círculo Italiano, Pinacoteca da Fundação Cristiano Varella em Muriaé, MG, Centro Cultural da Embaixada Brasileira na Cidade do México, Museo Internazionale dell’Acquarello, Fabriano, Italia e Museo Bolivariano de Arte Contemporanea.
CARLA RONCARATI (1959, Belo Horizonte, MG) vive e trabalha em Vitória, ES.
Bacharel em Artes Plásticas, graduou-se em 2009 na Universidade Federal do Espírito Santo. A partir de 1983 começa a expor, tendo já participado de 23 exposições, entre individuais e coletivas, em Vitória, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Trabalha com desenho (grafite sobre papel) e pintura, acrílica sobre tela e aquarela sobre papel.
Participa de diversos projetos culturais, como o Movimento Urban Sketchers em Vitória, do qual é atualmente coordenadora. Colabora no Projeto de Extensão Práticas e Processos da Pintura, no Centro de Artes da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), além de promover oficinas e realizar curadorias de exposições.
Carla Roncarati explora nas aquarelas uma paleta cromática lisérgica, dramática e exuberante, revelando sua concepção, em aquarela, da supremacia da cor sobre o desenho. Particularmente ligada ao mar e às nuvens, procura captar seus movimentos deixando-se guiar pelas “misturas das cores que vão ocorrendo naturalmente” como resultado dos caminhos que a água percorre no papel.
O caráter dessas cores se inspira no Espalhamento de Mie, ou Dispersão de Rayleigh, fenômeno de dispersão da luz observado recentemente em várias localidades ao redor do mundo – inclusive Vitória –, decorrente das erupções de um vulcão na Ilha de Tonga, no Pacífico. Colorações assim singulares do céu atraem Carla desde que, décadas atrás, residiu por alguns anos em Volta Redonda (RJ), onde fenômeno semelhante resulta provavelmente da poluição do ar.
DÉBORA DUARTE DE OLIVEIRA (1976, Porto Alegre, RS) vive e trabalha em Porto Alegre, RS.
Artista, professora de aquarela. Desenha desde a infância, sempre
em busca de aprimoramento na direção da representação realista.
As experiências e o encantamento com a fluidez do nanquim forneceram as bases e o interesse para que, a partir de 2017, Débora se lançasse no mundo cromático da aquarela. Dedicando-se com afinco extraordinário, procurou cursos livres com Marcos Beccari, Eudes Correia, Cárcamo, Pito Campos, Renato Alarcão, Avelino, Stephanie Boechat, Leandro Nunes, Antônio Giacomin, Ari de Goes, entre outros, alcançando pleno domínio técnico com rapidez surpreendente, sobretudo se levado em conta que Débora compartilha a atividade de pintora com a profissão de fisioterapeuta.
Participou de exposições nacionais e internacionais pela IWSBrazil – Aguarelas & Aquarelas e O Processo do Artista – e duas exposições em Foz do Iguaçu. Ministra oficinas de aquarela e administra o grupo de pintura ao ar livre Plein Air RS, de Porto Alegre.
Na transição do desenho para a aquarela Débora passa a utilizar a água não só como meio físico, mas também como objeto de reflexão. Seu fascínio pelos movimentos das marés, nuvens e tempestades tornaram-se assunto de suas pinturas.
Projeto cultural conjunto entre arte e ciência.
Aquarelas de Renato Palmuti somada ao conhecimento cientifico dos autores Fernando Dagosta e Mário de Pinna, compartilham um profundo estudo sobre as espécies de peixes de água doce do Brasil.
As aquarelas de Renato Palmuti selecionadas para a exposição Peixes do Brasil buscam reproduzir a fluidez, o movimento e a leveza com que esses seres da água vivem submersos em um mundo diferente do nosso.
O livro, recém produzido traz mais de 100 espécies de peixes de água doce, com curadoria científica de Fernando Dagosta e Mario de Pinna, dois dos maiores especialistas em peixes do país.
Algumas espécies nunca haviam sido ilustradas e ganharam vida através do desenho e da pintura pela primeira vez.
Essa exposição traz uma seleção de aquarelas que representam a diversidade contida no livro e consequentemente nos rios de nosso país.
O resultado desse projeto é fruto de uma combinação profunda de arte e ciência, que se deu com muita troca, aprendizado e dedicação.
Aquarela, pintura milenar que tem o meio líquido como protagonista: a água é o meio e o acaso.
A fluência do pincel ao justapor e sobrepor os pigmentos evidencia a transparência e a luz, imprimindo na superfície o espírito, a sensibilidade e a poética do artista. Pensar a aquarela como o fio condutor da expressão da alma ao universo percebido não é exagero, é no processo espontâneo de revelar seu pensamento, pesquisas e questões que o artista instiga o expectador a encontrar sentido nesta troca. Manifestar-se através da pintura é a mágica do artista, mágica essa que propomos compartilhar nesta exposição.
A International Watercolor Society - Brazil e Ateliê Galeria Priscila Mainieri convidam para exposição DIA MUNDIAL DA AQUARELA 2021 - O PROCESSO DO ARTISTA
A mostra reúne 24 artistas brasileiros que exibem suas pinturas juntamente com o passo a passo de seus processos de trabalho. A iniciativa acontece em homenagem ao Dia Mundial da Aquarela com abertura programada para a mesma data 23/11/2021 às 19H. Rua Isabel de Castela,274. Vila Madalena.
Obrigatório o uso de máscara.
Neste ano atípico, todos nós tivemos muitos desafios pessoais e profissionais e muitos ajustes para fazer em nossas vidas, podemos perceber o quanto é importante cuidarmos de nós, do outro e do planeta. Com criatividade, compromisso e confiança estamos traçando nossos novos caminhos. Tenho certeza do poder que a arte tem em nos remeter a sensações, lembranças, impulsos que ampliam nosso espaço físico para um mundo muito particular. Consciente ou inconscientemente, quando nos deparamos com a imagem, a cor, o volume, o movimento de uma obra disparamos impulsos elétricos que ativam algum lugar de sensibilidade e emoção... é apaixonante quando sentimos essa extensão e amplitude dos sentidos...reunir um conjunto de obras capazes de "conversar" com o público é uma missão desafiadora e gratificante. É com o intuito de compartilhar um olhar para a DELICADEZA que propusemos reúnir as obras que conseguiram, ao longo dos últimos 10 anos, nos cativar e envolver...bem vindo ao nosso universo...
Obras de
Angeli Arregui . Carlos Matuck . Claudio Gil . Claudio Rocha . Cristiano Lenhardt . Cristina Canepa . Danielle Carcav .
Doris Hahlweg . Eduard Maldus . Jon Gislason . Julio Barreto .
Rubens Matuck . Tide Hellmeister . Waldemar Zaidler
Você também pode nos visitar, estamos preparados para retomar as atividades presenciais com todo o carinho e cuidado.
Kairós: 12 artistas e um segredo reúne trabalhos de pequenos formatos – pinturas, desenhos, gravuras, recortes, fotografias –, de André Toral, Arnaldo Paoliello, Benê Dantas, Carlos Matuck, Julio Minervino, Mariza Mainieri, Priscila Mainieri, Ricardo Sanzi, Rubens Matuck, Sergio de Moraes, Vera Rossi, Waldemar Zaidler. Abertura: sábado, 23 de novembro de 2019, das 11h às 17h. Visitação até 14 de dezembro.
Nas pinturas, desenhos e colagens de Mauricio Piza coisas e signos engatam-se uns aos outros em arquipélagos imaginários. Na exposição o olhar é conduzido em um passeio pelos repertórios do artista e convidam à reconstituição dos caminhos por ele percorridos na construção de suas “engenhocas paisagísticas”. Dinamizados por jogos compositivos e cromáticos, os ícones e formas de Mauricio remetem a engrenagens que se animam mutuamente. Nas telas, os elementos são poeticamente justapostos de acordo com uma geometria ao mesmo tempo incerta e minuciosamente calculada; no conjunto, geram movimentos constantes, tanto no interior das pinturas quanto na imaginação de quem as vê.
Waldemar Zaidler, maio 2019
Durante o percurso artístico de Eduard Maldus, nota-se uma constante busca do equilíbrio entre forma e fundo.
Priscila Mainieri , março 2019
ENTREVER. É na sobreposições de fomas abstratas e orgânicas, que remetem a portais e a elementos vazados, que Priscila Mainieri explora a transparência da cor e luz na aquarela. O efeito da atmosfera rarefeita, revela-se de forma única sobre papeis orientais e ocidentais de tamanhos, espessuras e composições variadas. Abertura 14/02, das 19h às 22h, visitação até 23/03
Priscila Mainieri exibe obras de 2008 a 2017 que retratam a evolução de sua produção e de seu processo criativo. A mostra prepara a proposta do workshop "Edição de portfólio e desenvolvimento de projeto", com Rosely Nakagawa, no 2o semestre de 2017.
www.ateliepriscilamainieri.com.br
Carlos Matuck apresenta uma série de desenhos em nanquim sobre papéis orientais, chineses e japoneses, intitulada "ESPORTES”, produzidos para a realização de três murais para o SESC Santana em 2005, dois para o ginásio de esportes e um para a piscina.
O conjunto de desenhos, percebido como uma série autônoma, agora estará à disposição do público. Do ponto de vista formal, a composição privilegia o movimento corporal dos esportistas e suas respectivas sombras, conforme o projeto definido pelo artista. Os desenhos, pela diferença de gramatura dos papéis, pela densidade da polpa ou qualidade da fibra, foram pintados de duas maneiras: os realizados por pinceladas diretas e os produzidos pelo vazamento destas pinceladas sobre outra folha de papel, ou seja por absorção. De superfícies e tamanhos variados, os papéis pintados refletem uma gama de atividades esportivas na visão atemporal e bem humorada do artista. Em 2005 também foram realizados um vídeo e um documentário, que serão exibidos durante a exposição.
Exposição “Gravura em linóleo: Caminhos Paralelos”
Mostra de gravuras produzidas pelos artistas: Benê Dantas, Lica Neaime, Oscar Inneco, Sérgio de Moraes e Vera Rossi.
Abertura: 07 de novembro de 2015. Visitação: de 09 a 21 de novembro de 2015, de seg a sex das 11h às 19h, sáb das 11h ás 17h.
Caminhos paralelos
Sérgio, Vera, Oscar, Lica e Benê são uma espécie de arqueólogos às avessas; não escavam em busca do que foi, mas do que pode vir a ser. E tais devires, reunidos na presente exposição, operam o paradoxal encontro de caminhos que, ditos paralelos, não deveriam se cruzar a não ser no infinito.
Pois é o que esse grupo de artistas nos oferece: a vivência real da fantasia do infinito futuro; brincadeira própria da arte, que nos trabalhos apresentados é explorada em transparências, camadas, cores, efeitos e nuances que se renovam incessantemente em múltiplos aparentemente idênticos ou se acumulam em impressões singulares, provas únicas.
Os artistas conhecem bem os trabalhos uns dos outros. Encontram-se há anos no ateliê de Sérgio e juntos pesquisam técnicas, procedimentos, poéticas. Sérgio, em cujas gravuras transparecem experimentos de linguagem que cultiva desde os anos 1970, compartilha com seus colegas gravadores modos de fazer, qualidades visuais contagiantes que transitam pelos trabalhos e, simultaneamente, conferem identidade ao conjunto sem lhes afetar a singularidade. As obras selecionadas para essa exposição evidenciam cumplicidade interativa; é patente que o motor que move esse grupo extrapola o mero entusiasmo comum pela gravura.
Na linoleogravura as matrizes demandam cuidados e preparações de natureza diferente dos complexos e trabalhosos processos de preparação exigidos por outras técnicas de gravura. A participação das matrizes no resultado final é neutra se comparada, por exemplo, à xilogravura, processo que pode incorporar na estampa os veios da madeira, inclusive enquanto linguagem.
Longe de ser deficiência, essa neutralidade da matriz confere à técnica particular agilidade na exploração de sulcos, grafismos, chapados, sobreposições; possibilita, por exemplo, evocar as transparências flutuantes da aquarela, ainda que concebidas por procedimentos distintos.
Tais transparências, em particular, destacam-se como contato entre os trabalhos apresentados. Resultam da generosa disposição que todos no grupo têm para acrescentar mais uma e mais outra impressão sobre as precedentes, sobrepondo camadas que aprisionam entre si o tempo real do processo e o tempo imaginado da contemplação. Os efeitos visuais operados pelas impressões sequenciadas escapam ao rígido controle do artista, e delas sobrevêm coloridos, formas, interseções imprevistas, surpresas bem ao gosto de escavadores. Parafraseando Henry Bergson, poder-se-ia dizer que cada camada "traz em si um imprevisível nada que muda tudo".
Algumas das "folhagens" de Oscar, por exemplo, se valem desse princípio para oferecer à contemplação, a partir de um mesmo jogo de matrizes, acolhedores nichos de jardins variados. Assim como Oscar, Vera trabalha imagens de folhas, mas também busca no mar frutos para suas composições, e os organiza centralizados na área de impressão, tirando partido do papel que se deixa ver por entre figuras também transparentes e sobrepostas. Benê, mais geométrica e abstrata, trabalha as transparências por contiguidade e por texturizações abertas, pontilhismos gerados por reações da tinta.
Mas essa insistente superposição de camadas impressas pode também resultar em opacidades, em espessamento da superfície, em texturas que se oferecem pelo olho ao tato.
O dragão que peida, de Lica, o faz em meio a cintilantes contrastes entre grafismos simplificados, formas emergentes de intenso negro e massas de cor que revelam sua própria natureza material, mostram-se tintas. Tudo é espesso, denso. As figuras de Lica parecem ilustrar narrativas suscitadas por elas mesmas; são sugestões de fábulas, protocolos poéticos, qualidades que se estendem ao coletivo da mostra, trabalhadas por cada um à sua moda.
Sérgio, por sua vez, apresenta suas politipias, processo por ele próprio desenvolvido, derivado da linoleogravura e a ela equiparado enquanto técnica artística autônoma.
Quando no processo de impressão da gravura em linóleo se recorre à prensa, entre esta e o substrato interpõe-se um feltro, cuja principal função é distribuir homogeneamente a pressão. Os substratos mais comuns são papéis diversos, mas podem ser muitos outros, como por exemplo a entretela, através da qual a tinta vaza; por causa desse vazamento, é necessário colocar uma folha de papel impermeável entre ela e o feltro, protegendo-o. Reutilizados ao longo das tiragens, esses papéis de proteção acumulam aleatoriamente vestígios de cores, traços, manchas; Sérgio percebeu neles o potencial de suportes, bases para continuidades.
Assim, colecionados há anos, esses papéis são resgatados e utilizados em novas impressões; às vezes integram tiragens, como as exibidas nessa mostra; outras vezes retornam para a coleção e lá permanecem à espera de nova convocação. Se há no processo convocatório alguma participação do acaso, seguramente ela é muito menor do que a da intuição, da sistemática observação e da procura de relações visuais e líricas entre os papéis guardados e os projetos em andamento no dia-a-dia do ateliê.
Nas politipias de Sérgio, as camadas alternadas de resquícios aleatórios e intervenções planejadas produzem ambientes fantasmagóricos, testemunhos de matrizes perdidas, mas não como um palimpsesto, pois nada é apagado. Pelo contrário, o procedimento reforça o potencial de renovação da matriz, discute a idéia do múltiplo, da aura da peça única – que nesse caso não chega a existir enquanto tal, uma vez que potencialmente a peça jamais se conclui.
Entre essas camadas habitam figuras inusitadas que emergem à medida em que as indentificamos, e se anulam ao dar espaço a novas descobertas. E na soma tudo some, restando ao olhar apenas confortáveis contrastes entre brilhos e opacidades, claros e escuros, linhas e manchas que, aos poucos, se recompõem ciclicamente em novas narrativas: basta encontrá-las.
Waldemar Zaidler
outubro 2015
Artistas internacionais em duas exposições no Ateliê Galeria Priscila Mainieri
Dia 20 de outubro de 2015 a partir das 19h, o Ateliê Galeria Priscila Mainieri em parceria com a Damar e com o Instituto Cultural Capobianco, convida para o lançamento do documentário
Hello everybody!
Tarefa inglória, essa de escrever! Mas já que temos um blog e, de uma certa maneira, sou o responsável pela presença de tantos artistas por aqui, vamos a isso.
Nosso galpão atelier está lindo demais!
Já era lindo vazio, agora com tantos trabalhos artísticos em andamento está um verdadeiro show de bola!
Chegamos numa segunda à noite, 27 de julho, e desde então estamos aqui. Na terça fomos nos arranjando, escolhendo onde trabalhar, montando mesas e cavaletes, tirando os materiais das caixas, eu prá lá e prá cá tentando deixar tudo arrumado para todos trabalharem.
A partir daí o atelier galpão começou a crescer, o vento enfunou as velas, as cores da mata invadiram os papéis, o cafezal se imiscuiu nas telas e nas cabeças, muitas mãos concentradas em movimento, máquinas fotográficas, vassouras de cana da índia, doces, doces, doces, toneladas de café!
O lema de Tine Hind, direto da Escura Jutlândia, estabeleceu-se: “Relax, take it easy and don’t hesitate!!”
E desatou a pintar e gravar, nossa “Black Forest Fairy”, encantada com os colhedores de café (já gravou dois linóleos com eles, entre o abstrato e o figurativo, com suas peneiras, jogando o café para o alto). Mas fez também uma pintura distópica, admirável mundo novo, a humanidade entre escombros, as cores todas em fusão dentro de nossas cabeças.
Assim, Erwin Legl, azar de quem perder, iniciou a juntar pequenas tábuas e cobri-las de gesso, fortalecido por pedaços de sua juta germanicamente quadriculadinha. Achou pedaços de madeira abandonados pela fazenda e foi combinando-os até terminar quatro excelentes esculturas brancas. Então, sem mais tempo para esculpir, tratou de encher sua mesa de pinturas.
Lá no fundo do galpão, Jon Gislason e Doris Hahlweg escolheram ficar mais perto das árvores ainda que a iluminação por lá, à noite, seja ruim. Jon, como sempre, abusou de sua fantástica espontaneidade para pintar, pintando como se estivesse em outro lugar, como se não houvesse tela alguma à sua frente, como se estivesse fazendo outra coisa: o mais puro engano: a coisa vai se ajeitando, tomando forma, as cores vão achando o lugar que lhes convém, e lá está mais uma surpreendente pintura da escola dinamarquesa (talvez islandesa, talvez apenas jônica).
Doris começou pintando lixas d’água 600, bem fininhas, de um cinza intenso. Pintou dias a fio lixas e telas.
Ontem, em uma única sessão, fez uma pintura incrível só com manchas de cor conversando como o som dos pássaros nas árvores. E declarou, em seu português da Bavária: “ëstá um poco difícill de sôltarr, mas agorra parece mellhorr””.
As japonesas, ou japoas, como diziam os primeiros portugueses que conseguiram entrar na ilha encantada, como sempre deram um show à parte: primeiro, as três de maria chiquinha e maquiadas de caipira na festa junina que tivemos no sábado na antiga estação Catitó, dançando a quadrilha (até eu dancei a quadrilha…) e distribuindo sorrisos. Kiyoko Kozawa, a de sempre, sem comentários, todos que a conhecemos não conseguimos mais imaginar um mundo sem ela, astral total, sempre feliz, os olhinhos telescópicos em varredura permanente: nada escapa à nossa fantástica Kiyokito. Enquanto espalha bom humor inacreditável, pinta como só ela, atrás daquilo que é impalpável, às vezes invisível, as sombras das árvores nas casas, o vento e as sombras se enrolando nas folhagens.
Kiyomi Kuriki, depois de alguns dias muito preocupada com a exposição de abertura do workshop, aqui foi relaxando aos poucos e se concentrando em suas cósmicas pinturas siderais. Não se sabe o que é mais surpreendente: a sua pintura ou vê-la pintar, em pé ou sentada, como uma bailarina, elegantíssima em suas poses inspiratórias, concentratórias, respiratórias. As pinturas de Kiyomi, em épocas passadas do Oriente, seriam divinatórias, utilizadas para especular sobre a próxima colheita ou a intensidade da queda das folhas durante o outono.
Completando o trio, Yumi Takatsuka, pinta e desenha ou desenha e pinta? sentada sobre os joelhos, em japíssima posição, parece uma anatomista dissecando as imagens de seus animais e de suas carnes e ossos, criando surpreendentes desenhos pintados ou pinturas desenhadas cheias de força e movimento.
As três juntas nos proporcionam outro espetáculo involuntário: as conversas em japonês das três: cheias de “êêêêêêhhhhhhh”, “ôôôôôôôoooooooo”, tão típicas interjeições, para nós muito engraçadas.
No meio do galpão, temos a sessão digital, com Patrícia de Filippi e Justyna Machnicka, as duas enfiadas em seus computadores, manipulando as imagens de tudo ao seu redor.
Patrícia levanta cedo para aproveitar a luz da manhã e depois, no final do dia, a luz de fim de tarde, sempre rasante, o deleite dos fotógrafos em busca de minúsculos grãos de luz nas superfícies de seres, coisas e espaços.
A fazenda oferece um mundo de luzes cambiantes, o café no terreiro, as árvores magníficas, as máquinas, às vezes uma gramínea perdida e aparentemente insignificante, que diante daquela luz rasante, pela câmera se transforma, envolta pelos grãos de luz que brotam, brilham como as estrelas no céu, em alguma coisa de majestoso, um manto sagrado, uma pintura perdida.
Justyna, uma garça um tanto desengonçada de pernas longuíssimas, nariz polonês espetado e muito charme, faz caretas de concentração diante do computador, onde manipula fotos, todas feitas em São Paulo ou aqui na fazenda, acrescentando intervenções pictóricas ou gráficas, também realizadas por ela com ecoline ou aquarela, tudo resultando num trabalho delicado, poético, moderníssimo.
Por fim, e agora com vocês, nosso fundão e seus bad boys: Júlio Barreto, Marcos Maffei e Arismar do Espírito Santo.
Júlio desandou a pintar com a calma que lhe é peculiar, às vezes atropelando uma pintura com sucessivas intervenções, colecionando experiências diversas vividas intensamente. Pintou tudo o que viu e não viu. E também fez excelentes caricaturas de todos os outros artistas trabalhando: hilárias, divertidas e perspicazes.
Maffei, vagando alheio e quieto em meio à fumaça de seus cigarros, às vezes completamente desaparecido, escreve, escreve e escreve, sentado ouvindo músicas magnifícas (e eu perguntando: onde você achou isso?).
Seu conto mistura a nossa experiência como personagens reais aqui nesta fazenda distante com personagens e situações inventadas, um bocado de reportagem, um monte de ficção.
Arismar, santista incansável (eu lhe digo: Arismar do Espírito Santôôôss!!!), perambula com seu cavaquinho ou violão, estirando melodias pelo ambiente, criando enredos harmônicos para movimentos pictóricos, tocando para um e para outro, na verdade com um e com outro. Já pintamos um retrato dele, eu e Júlio juntos, tocando a pintura enquanto ele pincelava ritmos em uma caixa. Está compondo com o ambiente, com os trabalhadores rurais, com os ruídos das máquinas. Faz filmes estranhos com uma pequena câmera dessas pequenininhas caminhando e cantando pelo atelier.
Assim, uma boa seleção dos trabalhos produzidos nessa estadia estarão em exposição no Ateliê Galeria Priscila Mainieri.
Apareçam!
Ufa!
Carlos Matuck
12 ARTISTAS NA FAZENDA CATITÓ
Lançamento do documentário e abertura de exposição: 20 de outubro de 2015, às 19h
Visitação: de 21 a 30 de outubro de 2015, de seg a sex das 11h às 19h, sáb das 11h ás 17h.
Ateliê Galeria Priscila Mainieri, Rua Isabel de Castela, 274 V.Madalena, tel 3031-8727 www.ateliepriscilamainieri.
Mais informações: página Damar Workshop, no Facebook; no blog damarcatito.tumblr.com; no Instagram @damarcatito, e no endereço eletrônico http://issuu.com/
12 artistas na fazenda Catitó
Mostra de obras produzidas no Damar Catitó Workshop Internacional
Kiyomi Kuriki, Kiyoko Kozawa e Yumi Takatsuta (Japão), Doris Hahlweg e Erwin Legl (Alemanha), Tine Hinde e Jon Gislason (Dinamarca), Justyna Machnicka (Polônia), Patrícia de Filippi, Júlio Barreto, Arismar do Espírito Santo e Marcos Maffei (Brasil)
Essa coletiva, juntamente com a exposição The Moonligth & The end of the wind, inaugura a inserção efetiva do Ateliê Galeria Priscila Mainieri em um circuito internacional formado por profissionais da arte que se reúnem por afinidades nos modos de fazer e pensar, ainda que a diversidade e o inevitável debate ensejado por suas obras individuais sejam características marcantes do grupo, cujos integrantes atuam em universidades, instituições culturais e galerias de arte em diversos países da Europa, Ásia e Américas.
A exposição 12 Artistas na Fazenda Catitó apresenta obras resultantes da aproximação brasileira desse circuito internacional, no qual os próprios artistas vêm experimentando notáveis modos de produção artística de qualidade; alternativas saudáveis a editais oficiais e outras formas contemporâneas de incentivo à arte.
O Ateliê Galeria Priscila Mainieri e o Instituto Cultural Capobianco apoiam a iniciativa; são parceiros da Damar na realização do workshop e na apresentação dos resultados ao público.
Kiyoko Kozawa
1970, Aichi, Japão
A artista japonesa formou-se na Universidade de Artes de Nagoya e, em 1997, no Cité Internationale Des Arts (França). Mora e trabalha em Nagoya; desde o início dos anos 2000 participa de eventos internacionais promovidos por artistas em outras cidades do Japão e na Dinamarca, Polônia, Alemanha, Brasil, localidades nas quais ela produz e expõe seus trabalhos.
Kiyomi Kuriki
1966, Hiroshima, Japão
Kiyomi graduou-se em 1991 pela Aichi Prefectural Art University; desde então realiza periodicamente exposições individuais no Japão, simultaneamente a coletivas, bienais e residências artísticas na China, França, Alemanha, Dinamarca; conquistou várias premiações internacionais.
Yumi Takatsuta
1979, Brasil
Atualmente, mora e trabalha no Brasil. Criada no Japão, pós-graduada em 2004 pela Faculdade de Arte Kyoto Saga, realizou exposições individuais em Tokyo e Osaka; a partir de 2006 expõe regularmente em São Paulo.
Doris Hahlweg
1957, São Paulo, Brasil
Criada na Alemanha, vive e trabalha em Munique, onde estudou pintura na Academy of Fine Arts, Munich entre 1978 e 1986, tornando-se desde então artista independente. Realizou, entre 1992 e 2011, dezessete exposições individuais em cidades alemãs como Ulm, Dachau, München, Freiburg, Darmstadt, Landshut etc., participando no mesmo período de mais de mais de 40 exposições coletivas. Seus trabalhos integram as coleções Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Landeshauptstadt München, McKinsey & Company Hausbank, München, Artothek, München.
Erwin Legl
1954, Ingolstadt, Alemanha
Pintor e escultor, vive e trabalha em Hildesheim, onde desde 2000 é professor associado da Hildesheim University of Applied Sciences and Arts. Antes disso, estudou escultura em madeira na escola vocacional de Berchtesgaden, e formou-se pela Academy of Arts Munich. Realizou mais de uma dezena de individuais em diversas cidades alemãs, e tem participado de coletivas em galerias e universidades da Alemanha, Dinamarca e Japão. Participou da primeira edição do Damar Workshop Internacional.
Tine Hinde
1953, Askov, Dinamarca
Vive e trabalha em Aarhus. Iniciou seus estudos em arte em Amsterdam, Holanda, em 1973, na Rijks Academy; durante dois anos cursou a Academia de Arte de Aarhus, Dinamarca, e artes gráficas em Poznan, Polônia, em 1977. Atua como artista, designer gráfica e ilustradora. Entre 1993 e 2013 realizou 28 exposições individuais e fez viagens de estudos a 25 cidades em 15 diferentes países.
Jon Gislason
1955, Dinamarca
Graduado pela Royal Academy of Art em Aarhus em 1977, onde foi professor por mais de 10 anos. Afinado com os pintores grupo Kobra e neo-expressionistas alemães, circula entre a Dinamarca, Alemanha, Holanda, Itália, Espanha, Rússia, Suiça, Japão, EUA e Brasil, com exposições individuais e coletivas. É membro da Artists Society, Kunstnersamfundet. Participou da primeira edição do Damar Workshop Internacional.
Justyna Machnicka
1980, Polczyn Zdrój, Polônia
Artista, designer gráfica, professora universitária, formou-se pela The Higher School of Applied Arts, Szczecin (Polônia) e continuou os estudos em Lisboa, na Academia de Belas Artes; é Ph.D. pela University of Arts em Poznan (Polônia). Participa regularmente de workshops em seu país, na Tchecoslováquia e na Alemanha. Bastante premiada, atua em associações do meio artístico e cultural, e apresenta seus trabalhos em inúmeras exposições individuais e coletivas, dentro e fora da Polônia.
Patrícia de Filippi
1959, São Paulo, Brasil
Mora e trabalha em São Paulo. Graduou-se pela FAU-USP, especializou-se em conservação fotográfica no Arquivo Público da Cidade de Nova York (1991) e na L. Jeffrey Selznick School of Film Preservation, Rochester, NY, EUA (2000/2001). Pesquisadora da fotografia no século XIX, desenvolve trabalhos em fotogravura, projeto iniciado em 1996 com o incentivo do Prêmio Estímulo de Fotografia da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, do qual foi vencedora. Entre 1998 e 2013 dirigiu o Laboratório de Imagem e Som da Cinemateca Brasileira.
Júlio Barreto
1966, São Paulo, Brasil
Mora e trabalha em São Paulo. Autodidata, é pintor, gravador e desenhista. Desenvolveu técnicas próprias para a confecção de estênceis, linguagem que utiliza em suas pinturas sobre tela, e também em espaços públicos interiores e na rua. Em 2013 participou da primeira edição do Damar Workshop Internacional, e em 2014 da residência artística ArsTerra, em Hannover, Alemanha.
Arismar do Espírito Santo
1956, Santos, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo. Figura de destaque na música instrumental brasileira, referência em vários instrumentos, atua como compositor, diretor de espetáculos, concertista e palestrante em universidades do Brasil, Uruguai, Argentina, EUA e Dinamarca. Explora a diversidade da música brasileira e concebe projetos originais, como o Criação Musical no Estado do Acre, incentivado prelo Prêmio Funarte de Música Brasileira. Foi também vencedor do Prêmio Sharp de Música e eleito um dos 10 melhores guitarristas brasileiros pela revista Guitar Player.
Marcos Maffei
1959, São Paulo, Brasil
Trabalha e mora em Paraty (RJ). Fez música e filosofia na USP, sem concluir nenhum dos dois cursos ou virar músico ou filósofo – embora ainda toque saxofone na Banda Santa Cecília; é professor de Apreciação Musical na Escola Livre de Música da Casa da Cultura de Paraty. Tradutor e escritor, têm publicadas três adaptações de clássicos para crianças (Romeu e Julieta, Rei Artur e Odisséia, Escala) e mais de 50 traduções. Prestou também serviços como leitor para as editoras Companhia das Letras e Moderna, escreveu resenhas para o caderno "Letras" da Folha de São Paulo. Em 2009, com Diferenças nas praças venceu o prêmio Off-Flip de poesia, publicado na Coletânea do Prêmio Off-Flip em 2010. Atualmente, trabalha na Secretaria de Cultura de Paraty.
Artistas internacionais em duas exposições no Ateliê Galeria Priscila Mainieri
Moonlight & The end of the wind: exposição de pinturas das japonesas
Kiyomi Kuriki e Kiyoko Kozawa.
Abertura: 25 de julho de 2015, sábado, às 15h, com participação de Arismar do Espírito Santo, com a vivência musical "Enfim, o começo". Visitação até 08 de agosto, de segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados das 11h às 17h.
12 artistas na fazenda Catitó dos artistas Kiyomi Kuriki, Kiyoko Kozawa e Yumi Takatsuta (Japão), Doris Hahlweg e Erwin Legl (Alemanha),Tine Hinde e Jon Gislason (Dinamarca), Justyna Machnicka(Polônia), Patrícia de Filippi e Júlio Barreto (Brasil). 15.08, às 15h, (até 29.08)
As exposições são, respectivamente, abertura e encerramento do Workshop Internacional Damar Catitó, residência artística que reúne, além desses artistas visuais, o músico Arismar do Espírio Santo – que se apresentará na vernissage das duas exposição –, e o escritor Marcos Maffei. Ao longo de três semanas o grupo produzirá no ateliê especialmente montado para recebê-los na Fazenda Catitó (MG) e participará de atividades culturais em São Paulo.
The Moonlight & The end of the wind
O luar & O final do vento
de 25/07 a 08/08
Kiyoko Kozawa
1970, Aichi, Japão
Em sua segunda temporada no Brasil, Kiyoko expõe trabalhos recentes no Ateliê Galeria Priscila Mainieri, em São Paulo, a partir de 25 de julho, no evento que assinala o início dos trabalhos do Damar Catitó Workshop Internacional.
A artista japonesa formou-se na Universidade de Artes de Nagoya e, no Cité International Des Arts (França, 1997). Mora e trabalha em Nagoya; desde o início dos anos 2000 participa de eventos artísticos internacionais promovidos em outras cidades do Japão e na Dinamarca, na Polônia, na Alemanha, no Brasil, localidades nas quais ela produz e expõe seus trabalhos.
Alegre, a simpática Kiyoko circula e flui como o vento que gosta de pintar; emO final do vento, escreve:
Até o momento minha obra representa o ar que é afetado pelos contornos de todas as coisas da natureza.
O contorno das coisas nos apresenta duas dimensões, mas se modifica facilmente quando nos deslocamos diante delas.
Eu sinto o tempo passar quando desenho o ar ao redor.
Nos últimos anos desenhar o ar me traz pequenas mudanças.
Hoje desenho o vento, a luz e as sombras que entram pelas janelas e pelas portas. A corrente de vento que vem de fora.........., é de fato um sopro de ar puro.
Eu tenho desenhado o final do vento, amontoados de folhas que pousaram neste trabalho.
Kiyomi Kuriki
1966, Hiroshima, Japão
Assim como Kiyoko, Kiyomi busca movimentos; sua pintura evoca elegantes danças de brilhos e fulgores que emergem de um fundo preto, espesso, profundeza atraente. Dribla a monotonia com aplicações irregulares de impastos nas superfícies que percebe transformadas por sua própria ação, pelos seus traços, linhas brancas esfumaçadas nas quais Tadashi Kanai, curador do Toyota City Museum, reconhece crepúsculo e orvalho. Nas ondulações de linhas brancas que Kiyomi comprime na região central da tela, Kanai vê a sensualidade de cordões desamarrados na cintura.
Kiyomi graduou-se em 1991 pela Aichi Prefectural Art University; desde então realiza periodicamente exposições individuais no Japão, simultaneamente a coletivas, bienais e residências artísticas na China, França, Alemanha, Dinamarca; vem conquistando diversas premiações internacionais.
Para o crítico de arte Kazuo Yamawaki, as pinturas de Kiyomi resgatam uma atmosfera espiritual e mística que boa parte da pintura moderna parece ter perdido; estimulam nossa imaginação e nos transportam para uma zona de reciprocidade entre a realidade e o mundo do espírito, para uma antiga alma egípcia.
Luar, luz da lua: não poderia haver imagem melhor para nomear esse trabalho.
Os movimentos de Kiyomi e Kiyoko se complementam no giro cósmico e no vento que envolve as coisas.
Mais informações
Sobre as exposições de abertura e encerramento do workshop, consulte o sitewww.ateliepriscilamainieri.
Ateliê Galeria Priscila Mainieri | Rua Isabel de Castela, 274 V. Madalena | (11) 3031-8727 | www.ateliepriscilamainieri.
Catálogo da exposição: http://issuu.com/471921/docs/desdobramentos_issuu-2
Processos e investigações plásticas bem sucedidas a partir de gravuras em metal e xilogravura
A exposição Desdobramentos apresenta gravuras em metal de Renata Basile da Silva e xilo- gravuras de Marinês Busetti. Ambas exploram técnica e tematicamente a reprodutibilidade da imagem; pela multiplicação de linhas e módulos engendram tramas e formas singulares, propondo um jogo sensual que envolve matriz, estampa e observador; pela intervenção sobre as impressões dão voz própria às gravuras, potencializando-as com narrativas independentes de suas matrizes.
PROGRAMAÇÃO
Conversa com as artistas: dia 23 de maio, sábado, das 14h às 17h, as artistas receberão
interessados para conversar sobre seus trabalhos e projetos
Oficina de xilogravura: com Marinês Busetti, 30 de maio, da 10h às 18h (recesso para almoço das 12h30 às 14h). Valor: R$ 210,00
Oficina de carimbos: com Renata Basile, 13 de junho, das 14h às 18h. Valor: R$ 150,00
Palestra: O que é gravura moderna?, com Denis Molino. 17 de junho, quarta-feira, às 19h30 Inscrições: pelo e-mail contato@ateliepriscilamainieri.com.br ou pelo telefone (11) 3031.8727
Diálogos apresenta diferentes abordagens do grafismo em artes visuais. Convida à reflexão sobre o significado do termo artes gráficas, historicamente associado à ideia de reprodução, e mais recentemente restrito pelo senso comum a processos industriais. Os trabalhos reunidos chamam a atenção, cada um a sua moda, para a exploração de aspectos da linguagem gráfica, operação que estabelece animada conversa entre obras cujas técnicas e estilos, à primeira vista, não ensejariam convite para o mesmo banquete. Entretanto, uma vez juntas, não param de tagarelar!
(W.Zaidler)
Texto: http://www.ateliepriscilamainieri.com.br/conteudo.asp?IDMenu=22
Catálogo da exposição pelo link http://issuu.com/471921/docs/
Toral preza a linha e a história; sensível, sabe fundi-las de sorte a engendrar ficções desenhadas que promovem a “passagem do não-ser ao ser”. Faz suas experiências em diferentes laboratórios, com ingredientes variados; às vezes, destila o que já era mas não se via, em outras, opera a transformação do já visto – mas ainda não nomeado – primeiro em sensação, depois em significado; convida à fruição.
Essa capacidade se revela, ou melhor, se confirma nos trabalhos aqui reunidos. As duas séries de gravuras em metal – A história da Arte e A juventude de Van Gogh – e a série de desenhos coloridos em pastel seco sobre papel – intitulada 1932, hoje –, formam um conjunto de três narrativas entrelaçadas por uma poética coesa, ainda que concebidas em momentos distintos e em resposta a diferentes demandas.
Em A história da arte Toral contrapõe figuras pinçadas do imaginário de manifestações regidas pela lógica da in- dústria cultural e aforismos de filósofos, historiadores, artistas. Delimita um espaço-entre comum às palavras e às figuras, terreno semântico no qual constrói reflexões acerca de contradições entre a arte dita erudita – evocada pelas frases de efeito –, e o kitsch sugerido pelas imagens.
Em toda a exposição, a insubordinação entre palavras e imagens gera tensão, conflito entre o impulso habitual de, a partir do texto, procurar na imagem significado ilustrativo e a dificuldade de estabelecer nexos minimamente razoáveis que permitam ler as frases como legendas.
Conduta análoga orienta a série A juventude de Van Gogh.
Motoboys nitidamente paulistanos convivem com o pintor Van Gogh, que se faz presente nas gravuras pela trans- crição de frases de suas famosas cartas; Toral os conecta por uma condição que considera comum a eles: a urgência no cumprimento de suas respectivas missões, cujos objetivos implicam graves riscos para o equilíbrio mental e para a vida. Diante de tamanhas e medonhas dificuldades cotidianas vivenciadas tanto pelo pintor quanto pelos motociclistas, quais seriam as motivações para tal persistência obstinada na realização de seus empreendimentos?
As frases reproduzidas nas gravuras nos apresentam Van Gogh como um homem comum, empenhado contra obstá- culos semelhantes aos dos motoboys, semelhantes aos nossos. Como o próprio Toral anuncia, “o motoboy somos nós”.
O jogo palavra-figura-paisagem nos propõe um estado mental particular; se topamos, somos então levados a flanar pelas alegorias que Toral sintetiza com seu excelente desenho a partir de estudos sistematizados de momentos his- tóricos de seu interesse.
Da Revolução Constitucionalista de 1932 emergem figuras, símbolos, representações, slogans que na série 1932, hoje habitam cenários nos quais motoboys convivem com aspectos selecionados de uma visualidade expressa na concretude de São Paulo.
Símbolos da guerra são de tal modo inscritos na paisagem atual, nossa conhecida, que por vezes somos induzidos a tomá-los por monumentos ou edifícios futuristas, deixando-nos intrigados com o fato de ainda ontem termos por ali passado sem neles reparar.
Assim, figuras e emblemas da Revolução de 1932, coisas de um passado aparentemente obscurecido na memória de São Paulo, surpreendem-nos atuais e possíveis, retemperando significados de importantes marcos da cidade.
Waldemar Zaidler
outubro de 2014
[excerto do texto de apresentação do catálogo da exposição]
Priscila Mainieri expõe trabalhos recentes de pintura sobre tela e papel, fruto da conjunção da arquitetura do final do século XIX e início do século XX trazida por imigrantes na construção de suas casas na cidade de São Paulo e de realidades fictícias da vida destes moradores. Sobreposições geométricas, arabescos, ornamentos, desenhos e cor convivem num mesmo plano, sem perspectiva, formando estampas repletas de símbolos e padrões. Abertura 09/10 às 19h, visitação de 03/10 a 31/10
Durante a abertura, 09/10, Letizia Roa e José Calixto tocam Castello, Uccelini e Marini no violino barroco acompanhado pela teorba.
José Calixto Kahil Cohon (Brasil) é músico e compositor formado pela USP e atua na vanguarda antiga e contemporânea.Letizia Roa (Paraguai) toca música historicamente informada no violino barroco.
Catálogo da exposição pelo link http://issuu.com/471921/docs/issuu_carlosmatuck
A Sala Japonesa e outros olhares estrangeiros apresenta trabalhos de Carlos Matuck, realizados durante programas de residência artística na Dinamarca, Polônia, Alemanha, Japão e, com a memória dessas viagens, em seu ateliê em São Paulo. A partir de fotografias antigas, como imagens de identidade criminal e registros de família, Matuck elabora retratos multifacetados, em telas e desenhos sobre papel. Nas séries apresentadas foram utilizadas diversas técnicas, em montagens e desmontagens sucessivas, cortes e colagens de desenhos e pinturas para compor um retrato cultural amplo e particular ao mesmo tempo. Curadoria de Claudio Rocha e Priscila Mainieri. Apresentação de Waldemar Zaidler. Abertura 22/5 às 19h. Até 28/6.
PONTO MÚLTIPLO apresenta trabalhos de artistas que utilizam
técnicas diferentes em um recorte de suas produções
focado na estampa e na multiplicidade de imagens.
A mostra coletiva faz parte do evento SP ESTAMPA e é
composta de gravuras, fotogravuras, caligrafia, tipografia,
xilogravuras, impressões fine art, estenceis e monotipias de
ANDREA BARSI, ANTONIO CARLOS GOPER, CLAUDIO GIL, CLAUDIO ROCHA,
ELISETE ALVARENGA, FELIPE RISADA, JAIME PRADES, JULIO BARRETO,
MONICA TINOCO, PRISCILA MAINIERI E RENATA BASILE DA SILVA.
ABERTURA 8/5 às 19h VISITAÇÃO de 12 a 18 de maio, seg a sex,
das 14h às 19h. sáb e dom (17/18) das 11h às 17h.
ATELIÊ GALERIA PRISCILA MAINIERI rua Isabel de Castela,274
V.Madalena 3031.8727 www.ateliepriscilamainieri.com.br
Pixotosco e RiR são artistas que pintam quase todos os dias nas ruas de São Paulo. Cruzam a cidade pedalando para levar seus desenhos o mais longe possível, no melhor lugar possível, no maior tamanho possível. Na busca pela simplicidade e economia, rolo e extensor substituem o spray e a escada. A “carranca” do RiR (Felipe Risada) e o “dragão” do Pixotosco (Tony de Marco) espalham-se por paredes, colunas, pontes, túneis, viadutos, calçadas ou qualquer outro equipamento urbano disponível na cidade/canvas. Juntam-se a esses signos outros desenhos de um vocabulário desenvolvido em dez anos de estrada e três anos pintando juntos no grupo Rolinho Bros. A parceria na rua evoluiu e se concretizou no ateliê da dupla: uma sala da Paper Box Lab, na praça da Sé, o coração de São Paulo. Foi lá, contaminados pela energia do Centrão, que toda a produção da exposição “A Carranca e o Dragão” foi elaborada. Suportes recolhidos pela cidade, sucata urbana, compõem a mostra ao lado de grandes telas. Esses artistas entram na galeria com a própria rua nos braços.
Cartilha Tipográfica, monotipias de Claudio Rocha.
Na cartilha tipográfica, exposição de monotipias produzidas por Claudio Rocha em letterpress, o acesso à palavra escrita é reconstituído com tipos de madeira e matrizes de imagens. Essas monotipias recriam as associações entre os signos da escrita e as representações gráficas de coisas que se iniciam com as respectivas letras do alfabeto
Na infância, o processo de alfabetização, ou letramento, fecha um circuito de relacionamento com o mundo e nos permite formar palavras mentalmente por meio da visão. A apropriação da escrita surge como realização do intelecto, sendo a cartilha o instrumento pedagógico que introduz as letras de fôrma em nosso universo cultural.
A exposição Cartilha Tipográfica é acompanhada pela edição artesanal da pequena cartilha Lux in tenebris (luz na escuridão), nostalgia tipográfica multicolorida em essência.
Priscila Mainieri, edita seu protesto aos excessos cometidos por nossos representantes públicos frente às carências sociais do Brasil. Referencia o povo brasileiro com a força da luta e alegria estampada em cores e formas. Apresenta maquete, instalação, pintura, objeto e fotografia.
A técnica do estêncil existe desde a pré-história. Na antiguidade, era aplicado em objetos e paredes, com caráter ornamental e no início do século XX surgiu renovado nas telas dos pintores modernistas, sendo legitimado pelos artistas da Pop Art na década de1960. Ganhou conotação de movimento urbano cultural e artístico na década de 1980, inicialmente em Paris, depois Nova York e, finalmente, espalhou-se pelo mundo.
Essa forma de expressão, conhecida como graffiti, foi popularizada no Brasil por Alex Vallauri, no final da década de 1970. Junto dele estava Julio Barreto, ainda um menino, curioso e habilidoso. Cresceu respirando a atmosfera da arte de rua daquele período e suas máscaras, tecnicamente bem elaboradas, retratavam o universo das histórias em quadrinhos e da cultura de massa.
No percurso natural da rua para o ateliê, Julio uniu a densidade visual e as texturas do espaço urbano aos exageros, desvios e devaneios da sociedade. Sempre presentes, ícones e personagens, em tramas absurdas ou corriqueiras, são extraídos por seu olhar sensível e inquieto.
Ao longo de quase 30 anos de pesquisa de ateliê e ações de arte de rua, iniciadas nos anos 80 com o grupo Tupinãodá*, Jaime Prades, artista cujos grafismos fazem parte do imaginário das cidades, particularmente de São Paulo, conquistou com sua obra um território único de convivência entre a arte conceitual e a arte de rua.
Sem perder a irreverência da arte de rua suas obras estabelecem relações com os arquétipos primordiais e com o exercício da transformação da violência que permeia as relações coletivas entre muitas outras. Não por acaso seus personagens atuais são os "Pacificadores".
"As ruínas urbanas são testemunhas da voracidade humana. Migalhas do apetite insaciável de um sistema devorador." Jaime Prades
http://issuu.com/jaimeprades/
A técnica da impressão tipográfica evoluiu durante quase cinco séculos, passando pela Revolução Industrial para se tornar uma tecnologia complexa no século XX. A produção de tipos, papéis e tintas acompanhou a evolução dos equipamentos de impressão, permitindo que a qualidade gráfica obtida nesse sistema atingisse padrões absolutos de excelência.
Hoje, essa tecnologia foi amplamente superada e o sistema tipográfico é uma herança que se mantém como forma de arte, ligada principalmente a projetos editoriais de fundo cultural.
As Monotipias Tipográficas se inserem nesse contexto, aproximando as artes gráficas das artes plásticas. Os equipamentos e ferramentas gráficas são colocados a serviço da criação: prelo, tipos de madeira e metal, espátula, rolinho para entintamento manual, estopa, solvente, clichês. Sobreposições, velaturas, decalques, colagem, pressão extra nos cilindros, tudo é usado como forma de expressão. Um estado de imersão intenso conecta livremente a energia criativa com a técnica gráfica e conduz a resultados inesperados.
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