Priscila Mainieri

Priscila Mainieri, São Paulo, Brasil

Economista, FAAP, 1990.

Artista visual, Escola Panamericana de artes, 2008

Fundou o Ateliê Galeria Priscila Mainieri, 2012
Espaço colaborativo e co-participativo dedicado às artes visuais contemporâneas, onde:

  . Desenvolve e apresenta seu trabalho pessoal de artes visuais

  . Promove exposições de artistas de múltiplas linguagens, representativos da diversidade sócio culturais, com carreiras independentes e emergentes (28 mostras nos últimos 10 anos)
 

  . Oferece palestras, debates e cursos frequentes, ministrados por profissionais reconhecidos


  . Apoia programa de inclusão de artistas neurodiversos;


  . Participa de intercambio cultural entre artistas brasileiros e estrangeiros através de residência artística no Brasil e no exterior;

 

A pintura em aquarela e nanquim tem sido sua constante ferramenta de expressão.

 

Seu trabalho recente levanta questões das relações do homem, ser social, ativo e dotado do poder de decisão, com os recursos naturais e suas interações politico, sócio culturais. Relações estas, que resultam em redes neurais segmentadas de impacto direto sobre tudo que se organiza energeticamente no universo. As redes traçam, dividem, garantem espaços e tempos orgânicos de caráter etéreo e/ou obscuro.

 

Trajetória

 

. Aulas de pintura em aquarela com Rubens Matuck (desde 2016) e Angeli Arregui, (desde 2019).

 

. 202,  workshop de aquarela com Cesc Farré; Nicolas Lopez; Dário Percy CCallo.

 

. 2019, Brelinger Mitte Instituição Cultural: residência artística e exposição na Alemanha, com outros 9 artistas estrangeiros.

 

. 2016-2020, promoveu e participou do Curso de História da Arte com o Doutor e Filósofo Denis Bruza Molino.

 

. 2015, promoveu duas exposições internacionais vinculadas a residência artística para um grupo de 12 artistas estrangeiros e brasileiros.

 

Cursou também:  História da Arte, com Rodrigo Naves; Aquarela com Tuneu e Dudi Maia Rosa; Arte Contemporânea, com Aguinaldo Farias; Introdução às vanguardas do século XX, com Ferreira Gullar. Participou do encontro de Arte e Artistas Brasileiros com Paulo Pasta, Leonora Barros, Dudi Maia, Jac Leirner, Nuno Ramos e Waltercio Caldas.

 

Exposições Individuais:

ENTREVER, 2019 
SANKOFA, 2014 
VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA, 2013
ESPELHO, 2013
COMPRESSÃO, 2012

 

Exposições coletivas:

Dia Mundial da aquarela- o processo do artista, 2021

Kairós, 2019

Brelinger Mitte, 2019

Do Processo ao Projeto, 2018

Exposição Coletiva,  2016

Ponto Múltiplo, 2014

Chapel Art Show, 2011
MUBE, 2008


Exposições promovidas como co-curadora:

DIA MUNDIAL DA AQUARELA, O PROCESSO DO ARTISTA, novembro 2021
ENTRE, Maurício Piza, junho 2019;
MENSÁGENS CÓSMICAS, Eduard Maldus, maio 2019;
AMARRAÇÕES, Julio Barreto, novembro 2018;
PAPÉIS A MOSTRA, Angeli Arregui,Elisabeth Pral,Martha Tanizaki e Pauletti Gerecht, setembro 2018;
DIVERTIMENTOS, Julio Minervino, maio 2018;
PINTURAS AO QUADRADO, Arnaldo Paoliello, abril 2018;
DO PROCESSO AO PROJETO, Beá Tibiriça, Edson Kumazaka, Flávio Carvalho, Liliam Villanova, Priscila Mainieri, Tiago Marin, março 2018
A SOCIEDADE DO PAPEL, Claudio Rocha, novembro 2017;
PINTURAS_RUBENS MATUCK, Rubens Matuck, setembro,2017;
MATA A DENTRO, MONTANHAS AO LONGE, Julio Minervino, março 2017;
ESPAÇO, TEMPO E MEMÓRIA, Cristina Canepa, outubro 2016;
UM, Ana de Niemeyer,Ana Roberta Lima,Carolina Mossim,Erika Massae,Liliam Villanova,Marcella Madeira,Renata Broetto,Yasmim Guimarães, agosto 2016;
PINTURA SOBRE MADEIRA, UM SUPORTE, DUAS VISÕES, Alice NM e Rubens Matuck, junho 2016;
NUM VÉU DE ÁGUA SE INSCREVE A PAISAGEM, Julio Minervino, abril, 2016;
ESPORTES, Carlos Matuck, março 2016;
CAMINHOS PARALELOS, Benê Dantas, Lica Neaime,Oscar Innecco, Sérgio de Moraes, Vera Rossi, novembro 2015;
12 ARTISTAS NA FAZENDA CATITÓ, coletiva wshop Intl, outubro 2015;
MOONLIGHT & THE END OF THE WIND, Kiyomi Kuriki e Kiyoko Kozawa; julho 2015;
DESDOBRAMENTOS, Renata Basile e Marinês Busetti, maio 2015;
DIÁLOGOS, André Toral, Julio Barreto, Julio Minervino, Carlos Matuck e Claudio Rocha, março 2015;
OUTRAS COISAS, André Toral, novembro 2014;
A SALA JAPONESA E OUTROS OLHARES ESTRANGEIROS, Carlos Matuck, maio 2014;
A CARRANCA E O DRAGÃO, Rolinho Bros, abril 2014;
PONTO MÚLTIPLO, coletiva de gravura, maio 2014;
CARTILHA TIPOGRÁFICA, Claudio Rocha, novembro 2013;
ÍCONES PERDIDOS, Julio Barreto, junho 2013;
PAREDE S/ PAREDE, Jaime Prades, setembro 2012;
É BONITO ISSO?, Claudio Rocha, abril 2012.

TEXTOS

Priscila Manieri - Aquarelas - 2018/23.

 

Durante um período considerável Priscila Mainieri investigou composições abstratas. Jogando com formas e contra formas, engendrava camadas cromáticas sobrepostas obtendo ambiências orgânicas para as quais a transparência da aquarela emprestava profundidade. As pinturas geradas no período em que esse foi o foco da produção, de fato, convidam o observador a avançar por alvéolos, a explorar grutas, a se infiltrar cautelosamente por buracos sequenciados.

Formas e contra formas, nessa fase de sua produção, definiam-se exclusivamente pela cor. Descomprometidas com a representação do visível a olho nu, figuravam o que nelas se quisesse ver. Os cheios e vazios sobrepostos, ainda que nitidamente definidos, não impunham desenho definido, linha.

O envolvimento com as possibilidades de pintura em aquarela levou Priscila à diversificação de sua pesquisa. O primeiro passo foi dado principalmente em direção à pintura de paisagem. Técnicas convencionais e cenários convencionais foram rapidamente dominados, gerando séries de pinturas competentes, construídas com base na cor, mas não coloristas. Manifesta-se nessas séries de paisagens a experiência acumulada com a exploração de transparências e sobreposições de formas em si abstratas mas que, no todo, figuram. Nelas é possível distinguir dois procedimentos: em um deles, a utilização de referências  in visu ou in situ; no outro, a pintura “de cabeça”, como a própria Priscila define. Neste, provavelmente por não serem estabelecidas expectativas a priori e permitir à construção da pintura direcionamento próprio, as imagens resultantes são potencializadas, suscitando mais fabulação do que contemplação. Reverberam nelas ecos das “cavernas” da fase anterior.

Em constante aprimoramento de habilidades técnicas e conhecimentos teóricos, Priscila tenta acirrar relações entre suas duas vertentes investigativas, juntando abstrato e figurativo. Para tanto, segue por dois caminhos: adição e subtração.

No aditivo, Priscila aplica em suas pinturas de paisagens referenciadas – luar, mar, rochedo – uma, apenas uma camada de “buracos” que extrai de aquarelas da fase anterior. Nesse deslocamento, porém, não se vale de transparências: aplica-a em nanquim, transformando-a, de certo modo, em coisa gráfica, promovendo um choque com a coisa pintada. Aqui, a camada não é mais, como nas aquarelas de origem, convite à entrada, mas anteparo, alambrado disforme. Em alguns casos, após a sobreposição dessa camada Priscila retrabalhada algumas das áreas isoladas pela barreira de nanquim.

O procedimento subtrativo, por sua vez, ramifica-se em outros três. 

Um deles, intermediário entre acrescentar e tirar, apresenta o mesmo deslocamento acima descrito, porém aplica a camada de alvéolos com transparência. O alambrado, então, vira cortina e diminui o impacto do choque entre linguagens gráfica e pictórica, mas ainda as colocando em xeque.

Os outros dois sintetizam potente evolução na pintura de Priscila. Trata-se de movimentos de construção e desconstrução, retorno à abstração a partir de paisagens. Em um dos ramos são paisagens imaginárias, “de cabeça”. No outro, elementos constituintes de paisagens: água, e não mar; folha, e não bosque; flor, e não vaso. Em ambos o objetivo é construir um clima interno à própria pintura, e não evocar memórias do já contemplado.

O processo se dá pelo esgarçamento das camadas de pigmento. Ao atingir a densidade, os contrastes cromáticos, as sugestões figurativas desejadas, Priscila começa a desfazer a pintura, ou seja, a retirar pigmento por meio de raspagens, lavagens, jatos de ar etc. Para tanto, permite-se experimentar combinações de aquarelas, papéis e instrumentos de diferentes tipos.

Assim, há casos em que camadas de “buracos” são novamente importadas, mas invertendo agora a relação figura-fundo. O que antes era substância sobreposta, opaca ou transparente, passa agora a ser matéria ausente. Ausência intrigante, delicada, convidativa.

Em outros casos a desconstrução é também uma “construção de cabeça”: os modos de retirar pigmento são consequências dos rumos compositivos que o todo vai apresentando a cada interferência.

Os resultados indicam avanços significativos rumo a uma pintura pessoal, peculiar, elaborada a partir de refinamentos de linguagem capazes de conectar pensamento e espírito.

Waldemar Zaidler, junho 2023.

 

ENTREVER - Priscila Mainieri

 

Priscila Mainieri, em Entrever, sua mais recente série de trabalhos, apresenta tramas cromáticas sobrepostas em um inteligente e sensível jogo de cheios e vazios cujo resultado, pacificador e hipnótico, convida à fantasia.

            Se de fato, como quer Bergson, toda realização traz em si um imprevisível nada que muda tudo, os nadas que permeiam as pinturas de Priscila têm sua potência transformadora manifestada como conteúdo invisível que regula a forma de seus continentes: em Entrever o nada é tudo; no vazio está a plenitude, o silêncio da música.

            Note-se que a referida série é realizada em aquarela, cuja natureza e transparência exigem procedimentos técnicos específicos: parte-se do princípio de que o substrato – aquilo sobre o que se pinta, que para outras tintas é algo a ser recoberto e do qual se preserva, se tanto, as texturas – traz nele próprio a luminosidade: em aquarela o papel é brilho, luz. Priscila pesquisa e experimenta papéis artesanais do ocidente e do oriente, utilizando inclusive folhas inteiras, e incorpora sintaticamente a materialidade deles nas camadas de cor; aqui e ali, equilibradamente, deixa virgem partes do papel, cheias de nada, como passagens pelas quais se pode escapulir para o lado de lá. Dosa com sensibilidade a sobreposição de inúmeras aguadas uniformes, íntegras, que em suas interseções multiplicam formas, figuras, fundos.

            Em Entrever a superposição controlada de interstícios sugere o todo pela parte, as imagens resultantes remetem a coisas: às redes – incluindo suas representações e desdobramentos semânticos –; às rendas, ao têxtil; às amebas e aparentados examinados nas lâminas dos microscópios ginasianos. Em alguns momentos lembram vitrais. Em outros, ainda, beiram a paisagem fantástica, bosques, troncos e copas sugeridas pelo tratamento opaco dos intervalos que definem os buracos e são por eles definidos. Tudo resultado de um hábil emaranhamento cromático que se articula em áreas, territórios, arquipélagos: cartografias.

            De outro ponto de vista, os cheios e vazios constroem espacialidades habitáveis, cujas estruturas parecem sistematizadas a partir de uma lógica muito pessoal, uma arquitetura líquida, resiliente, labiríntica. Mas essa lógica não entra em conflito com a intuição e a espontaneidade; pelo contrário, a elas se funde, e nessa mistura abrem-se fendas para roteiros de viagens fantasiosas.

            Assim Priscila, enveredada pelas frestas, luzes e luminosidades de sua pintura, constrói vazios e os recheia de nada; e produzir tal vacância é um­ excelente achado, pois oferece ao observador essas câmaras para que ele as preencha com suas próprias fabulações.

            Os alvéolos tanto têm a potência de criar a ilusão de profundidade para o lado de lá da moldura quanto a capacidade de se projetarem para o lado de cá, para o espaço anterior à superfície do papel; esse espessamento, envolvente como um voile que se descortina à volta o espectador, é mais um estímulo para que ele siga em adiante em seu movimento furtivo, travestido de… cientista miniaturizado atravessando membranas em Viagem fantástica?… espeleólogo em Viagem ao centro da Terra?… “toupeira” kafkiana percorrendo galerias subterrâneas em A construção?… camundongo salivante diante dos buracos em O grande queijo?…

            São, de fato, sugestivos e transformadores os nada das pinturas de Priscila Mainieri: mudam tudo.

 

Waldemar Zaidler, junho 2019

 

 

Entre tons escuros e claros, cores opacas e transparentes, camadas de cor sobre e sob, surgem estas formas em sobreposições que sugerem convivência, transposição, transformação.

No amadurecimento deste processo de criação, Priscilla Mainieri desenvolve a matéria com que trabalha : a cor_luz . Surgem no papel construídas em camadas sobrepostas, onde aparecem ao lado das texturas, adensadas por camadas tonais.

A difícil tarefa de aquarelar, conjugada à capacidade de entrever o papel como luz, encontra seu equilíbrio entre o plástico e o gráfico.

Pesquisando referências culturais, técnicas, suportes e materiais, Priscila parte em busca de seus objetivos.

Na série “Entrever”, ela constrói um espaço de imaginação. Entre Plutarco e Plutão, entre a  Índia e Pérsia , através de muxarabis e cobogós . Segue criando e vendo, sem se deixar ver.

 

Rosely Nakagawa, 2019

 

Os trabalhos de estêncil de Priscila mostraram o caminho da minha orientação para ela. Iniciadas com a observação da preservação das regiões de branco do papel, conduzindo a um dialogo importante sobre a pintura de aquarela.

Muito dedicada aos seus estudos e no compartilhamento do seu espaço de ateliê, sempre teve sua atenção concentrada na orientação técnica e na  observação da historia da arte. Estudou as técnicas de diversos artistas, como a de Rafael (em seus cartões de tapeçaria) ou de escolas orientais  notadamente a persa , a chinesa e a japonesa.

Priscila apresentou uma predileção pela geometria sagrada muçulmana. O que eram simples exercícios, transformaram – se gradualmente numa série de trabalhos em papel com uma linha de pesquisa.

A geometria associada ao estudo da arte de Alhambra, reforçaram a importância de conhecer a visão mais precisa das formas espelhadas e a preservar as superfícies não tocadas, apresentando o papel puro, como forma e cor. Assim como acontece no conceito da “não pintura” na arte chinesa, fazendo com que o papel se torne protagonista.

Em seu contato com os papeis orientais, pinceis e pedras de nanquim, Priscila experimentou um tipo de papel, que possibilita a absorção total da aquarela. A absorção é um item característico da pintura oriental, que permite a apreciação dos dois lados da obra finalizada. Esse processo junto às teorias de contiguidade e justaposição da cor de Chevreul, resultou numa melhoria da transparência e consequente riqueza de cor deste trabalho.

 

Rubens Matuck, 2019


O trabalho de PRISCILA MAINIERI faz referência constante às relações do ser humano com a vida e o tempo. A artista apropria-se de elementos da natureza, da arquitetura e de objetos para traduzir manifestações psicológicas e sociais em linguagem visual. Utiliza-se de diferentes veículos e suportes que muitas vezes interagem e se misturam.

A repetição, a geometrização e a cor estão sempre presentes em seu trabalho. Inquietações sócio-políticas também permeiam o conceito em alguns trabalhos. A referência pessoal vai além da estruturação da obra e do resultado final. É necessário somar a execução, pois é no “fazer” que se dá a comunhão e a cumplicidade da artista com sua produção.

Claudio Rocha,2012